domingo, 30 de janeiro de 2011

Reviralhos Sound System # 16 (edição especial)



Led Zeppelin - "Whole Lotta Love" (1969)




Led Zeppelin - "Stairway To Heaven" (1971)




Robert Wyatt - "Sea Song" (1974)




Robert Wyatt - "Alifib" (1974)




Patti Smith - "Gloria" (1975)




Patti Smith - "Horses" (1975)




A cantiga é uma arma (contra o desemprego e a precariedade) # 5




Deolinda - "Parva que sou" (inédito)

Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

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sábado, 29 de janeiro de 2011

Cinematógrafo do Reviralhos # 6


Libertarias - Libertárias (1996)





Título: Libertarias - Libertárias (1996)

Realização: Vicente Aranda

Argumento: Vicente Aranda, José Luis Guarner e Antonio Rabinad

Intérpretes: Ana Belén, Victoria Abril, Ariadna Gil...

Música: José Nieto

Duração: 122 minutos



Revolução por contágio



Uma análise concisa e esclarecedora sobre as revoltas populares na Tunísia e no Egipto, efectuada ontem por Miguel Portas.

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Recordar para nunca esquecer

No aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, data simbolicamente escolhida pelas Nações Unidas para assinalar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, homenageamos todas as vítimas da barbárie nazi.
 
Para que a memória não se apague (nem a história se repita, como hoje alertou Zoni Weisz), recordamos algumas das imagens captadas durante a libertação dos campos de concentração de Buchenwald e Dachau.
 




Lido por aí... # 8


O movimento SOS Educação foi um dos protagonistas da campanha eleitoral das eleições presidenciais. Cavalgando a agenda de Cavaco Silva, num profícuo relacionamento simbiótico entre os promotores dos protestos e o candidato presidencial, o movimento demonstrou claramente quem o promove e que interesses se ocultam na sombra dos cartazes, dos balões e dos gritos ensaiados de dezenas de crianças e adultos.
O que realmente se oculta neste protesto, que Cavaco protegeu e caucionou, são os interesses de quem encara a educação como um negócio, preferencialmente católico e pago pelo Estado (ou seja, por todos nós).
Não contestamos que o Estado financie instituições de ensino privado em zonas onde não exista oferta pública, mas não pactuamos com os interesses de uma direita conservadora e confessional que clama publicamente por menos Estado mas que, simultaneamente e de forma velada, se alimenta e engorda com os seus recursos.

Sobre este assunto, transcrevemos dois textos que sistematizam o cerne desta questão e que vão ao encontro da posição que acima defendemos.
O primeiro, de Manuel António Pina ("Ensino privado, dinheiro público", publicado no JN) e o segundo, "Direita contra direita", da autoria de José M. Castro Caldas e publicado no blogue Ladrões de Bicicletas:

Ensino privado, dinheiro público

O Governo entende, e bem, que o Estado não deve financiar os colégios privados com contrato de associação (onde o ensino é, como nas escolas públicas, pago pelos contribuintes) com valores superiores àqueles com que financia as escolas públicas.

Mas os colégios querem mais, e, ontem, dirigentes de alguns deles, arrastando consigo pais e crianças (há notícia de casos em que as crianças que não foram a essa e a outras manifestações promovidas pelos colégios tiveram falta), depositaram caixões junto do ME, querendo com isso simbolizar a "morte" do ensino privado... por ter que viver com o mesmo com que vive o ensino público. É a "iniciativa privada" no seu melhor: sempre a clamar contra o Estado e, ao mesmo tempo, sempre a exigir subsídios e apoios.

Diz a ministra que o Estado não deve contribuir com dinheiro dos contribuintes para as piscinas, o golfe e a equitação de alguns colégios privados, e é difícil não lhe dar razão.

Mas talvez esta fosse boa altura para, finalmente, o ME ir mais fundo e apurar o destino que é dado em alguns desses colégios aos dinheiros públicos. Saber, por exemplo, se todas as verbas destinadas aos professores chegarão ao seu destino ou se, em certos casos, o Estado não andará a financiar, afrontando a Constituição, um ensino abusivamente selectivo e confessional, onde os professores têm, de novo só por exemplo, que "participar na oração da manhã na Capela".


Direita contra direita

A direita domina com grande mestria a arte de ser oposição a si mesma. Isto tem sido a chave dos seus sucessos eleitorais e continuará a ser enquanto não houver um número suficiente de pessoas que se aperceba da manha.
 
A direita quis um estado pequenino. Prometeu às “classes médias” que assim não teriam de pagar impostos. Muitos acreditaram, pensando que o Estado era só gordura e nenhuma produção e que teriam tudo a ganhar com o seu emagrecimento. A direita pediu e aplaudiu a austeridade, chorou por mais austeridade ainda com FMI em vez de governo. Muitos pensaram: “a austeridade só vai afectar os outros”.
 
Agora que a austeridade se começa a traduzir em incapacidade do Estado cumprir os seus compromissos e belisca interesses dos que pensaram que a austeridade só afectaria os outros - como sucede no caso do subsídio público às escolas privadas - a direita exercita movimentos de protesto ao estilo “tea party” com o aplauso dos políticos de direita. Mais episódios como este se seguirão, sem dúvida, dentro de momentos.
 
A austeridade recessiva, o tipo de consolidação do défice e da divida que não leva a lado nenhum, não pode deixar de suscitar protesto e resistência e bom seria que os economistas incorporassem esta variável nos seus modelos. Há, é claro, um protesto e a uma resistência que podem levar a algum lado: coesão europeia e consolidação pelo crescimento. Mas esse é o protesto que em toda a Europa tem como alvo a direita que aplaude a austeridade recessiva. Onde está essa direita? Em muitos sítios, mesmo em partidos ditos de esquerda. Mas há uma direita particularmente manhosa e perigosa a que é preciso estar atento agora mais do que nunca: a que representa o topo da pirâmide do rendimento e do poder económico, a que engordou no forrobodó financeiro, a que pensa tudo ter a ganhar com a via da austeridade recessiva e ainda por cima tenta cavalgar o descontentamento que essa mesma austeridade inevitavelmente origina.

Acrescento, para que não haja ambiguidades, que considero o corte nos subsídios ao ensino privado, onde não existe falta de oferta pública, inteiramente justificado e só não compreendo como é que isso não aconteceu há mais tempo. Parece-me também que se deveriam considerar, com cuidado, soluções de integração dos professores afectados na escola pública.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A nostalgia censória do candidato do BPN/PSD/CDS






(Vídeos retirados do blogue Tabus de Cavaco)

Aviso anti-abstencionista # 2


(imagem retirada de oblogouavida)



Entre nós e as palavras # 14


Quatro coisas quer o amo
Do criado que o serve
Deitar tarde, erguer cedo
Comer pouco e andar alegre

Já lá baixo vem a noite
Já lá vem nossa alegria
Tristeza p’ró nosso amo
Que se acabou o dia

Já o sol se vai embora
Por detrás do cabecinho
Quem dera ao patrão atá-lo
Na ponta de um nagalhinho

S’ele pudesse e bem quisera
Fazer o dia maior
Dar um nó na fita verde
P’ra que o sol se não pusera

Anónimo, cantiga tradicional da Beira-Baixa


(Fotografia: Dorothea Lange - "White Angel Breadline", San Francisco, 1933)

 
 

A cantiga é uma arma (contra a direita cavaquista) # 4













A "honestidade" de Cavaco Silva foge ao fisco e não tem alvará

No dia 9 de julho de 1998, a notária Maria do Carmo Santos deslocou-se ao escritório de Fernando Fantasia, na empresa industrial Sapec, Rua Vítor Cordon, em Lisboa, para registar uma escritura especial. O casal Cavaco Silva (cerimoniosamente identificados com os títulos académicos de "Prof. Dr." e "Dra") entregava a sua casa de férias em Montechoro, Albufeira, e recebia em troca da Constralmada - Sociedade de Construções Lda uma nova moradia no mesmo concelho. Ambas foram avaliadas pelas partes no mesmo valor: 135 mil euros. Este tipo de permutas, entre imóveis do mesmo valor, está isento do pagamento de sisa, o imposto que antecedeu o IMI, e vigorava à época.










 
Caso ainda existissem dúvidas, a notícia da Visão, que acima reproduzimos, vem mais uma vez confirmar quão espúrio é o conceito de honestidade de Cavaco Silva.
Sabemos hoje que o mutismo de Cavaco é feito de comprometimentos, de jogos de influência, de compadrio e de aproveitamento pessoal.
 
Este é o tempo de exigirmos explicações.
Este é o tempo de não pactuarmos com a fraude e a ilicitude. 
Este é o tempo de utilizarmos o nosso voto.
Este é o tempo de derrotarmos Cavaco Silva! 
 
 


(imagem retirada de oblogouavida)



 
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Cavaco Silva, um candidato a mastigar em seco até à 2ª volta...

Se não fosses idiota, o que gostarias de ter sido? (parte VII)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Cavaco Silva, 5 anos a comentar porra nenhuma

Para Cavaco Silva, bom e barato só mesmo uma ditadura






(imagem retirada de oblogouavida)


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Aviso anti-abstencionista























(imagem retirada de oblogouavida)



O coveiro da ferrovia que adora andar de comboio



(Vídeo retirado do blogue Tabus de Cavaco)


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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O populismo salazarista de Cavaco Silva



Cavaco Silva, 18 de Janeiro de 2011

 
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Memórias da democracia cavaquista # 3



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Os esqueletos que Cavaco esconde no armário: negócio da vivenda envolve empresa do grupo SLN



Dando seguimento à notícia divulgada na edição da semana passada (disponível aqui), a Visão revela hoje mais pormenores relativos ao negócio da vivenda de Cavaco Silva:



No dia 17 de fevereiro de 1999, quarta-feira de cinzas, dava entrada na Conservatória do Registo Predial de Albufeira a aquisição do lote 18 da Urbanização da Aldeia da Coelha. Uma permuta entre o casal Aníbal e Maria Cavaco Silva e a empresa Constralmada - Sociedade de Construções, Lda, atesta a passagem da propriedade para o atual Presidente da República. No registo não se encontra, como a VISÃO noticiou na edição de 13 deste mês , a escritura pública que contratualiza a permuta. Ou seja, não se pode apurar, e Cavaco Silva não esclarece, o que deu em troca dos dois lotes de terreno (os antigos lotes 18 e 19 do loteamento inicial, correspondentes ao atual lote 18, e o "edifício composto por cave, rés-do-chão e 1º andar, do tipo T-6, com logradouro" de 1891 metros quadrados).

[...]



[...]
 
 
Mais notícias sobre este assunto aqui e aqui.
 
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Entre nós e as palavras # 13


A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

Quem ainda está vivo não diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.

Bertold Brecht - "Elogio da Dialética"

(Tradução: Arnaldo Saraiva)


(Fotografia: Marc Riboud - "Mai 68")



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Memórias da democracia cavaquista # 2


Chama-se Gilberto Raimundo, tem 21 anos, e foi ontem, à frente da Assembleia da República brutalmente espancado por um polícia. Um rosto, a sangrar, entre outros. Milhares de estudantes protestavam contra as propinas. A polícia investiu e nem o Major Tomé foi poupado.
Atacaram pelas costas e foi isso que mais chocou os estudantes. Os traseuntes, também, que, estando ali por acaso foram alvo da bordoada. Um idoso foi espancado. Estava ao pé da paragem 100.
Cadi Fernandes, Diário de Notícias, 25 de Novembro de 1993

 
Memória de uma das várias cargas policiais ordenadas por Dias Loureiro, então Ministro da Administração Interna, durante os governos de Cavaco Silva...
 
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domingo, 16 de janeiro de 2011

Boas razões para NÃO VOTAR EM CAVACO


A inutilidade do voto em branco




Tem circulado de forma generalizada na Internet e através de correio electrónico uma mensagem de apelo ao voto em branco. Esta mensagem induz os cidadãos em erro, na medida em que afirma que se for obtida uma percentagem maioritária de votos em branco a eleição do Presidente da República, do próximo dia 23 de Janeiro de 2011, será anulada.
Por essa razão, um número significativo de cidadãos tem vindo a solicitar à Comissão Nacional de Eleições esclarecimentos sobre a veracidade da informação divulgada.
No sentido de promover o esclarecimento objectivo dos cidadãos a este respeito, a Comissão Nacional de Eleições vem informar o seguinte:
- Os votos em branco e os votos nulos não têm influência no apuramento dos resultados;
- Será sempre eleito, à primeira ou segunda volta, o candidato que tiver mais de metade dos votos expressos, qualquer que seja o número de votos brancos ou nulos.

A nota da CNE, acima transcrita, esclarece aquilo que muitos têm procurado ocultar nas últimas semanas: os votos em branco e os votos nulos não têm qualquer influência no apuramento dos resultados das próximas eleições presidencias.

O voto em branco, sendo legítimo, será apenas uma forma de protesto inconsequente e não passará, para todos aqueles que pretendem derrotar Cavaco Silva, de uma inutilidade política.

A união da direita em torno de Cavaco Silva, ansiando pela concretização do velho sonho de "uma maioria, um governo e um presidente", faz com que todos nós, cidadãos de esquerda, nos devamos mobilizar e empenhar para impedir a reeleição do actual presidente da república.

A realização de uma segunda volta, onde Cavaco poderá ser efectivamente derrotado, está apenas à distância do nosso voto.

Usa o teu voto, não o desperdices!


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Banda sonora para cocktails e barbecues na Aldeia da Coelha

Os esqueletos que Cavaco esconde no armário


A edição desta semana da revista Visão, revela-nos a existência de um pequeno remanso algarvio, onde a nata da fraude do BPN convive paredes meias com o actual presidente da república. 

É um facto que cada um escolhe os amigos que quer, mas poucos têm a possibilidade de ser tão convenientemente selectivos, em termos de vizinhança, como o actual presidente da república:

Perante a notícia, Cavaco Silva nada comenta.
Para o candidato presidencial, tudo na aldeia de luxo do cavaquistão é normal e nada carece de explicações, nem mesmo a inexistência de escrituras, as obscuras sociedades sediadas em off-shores, as permutas convenientemente efectuadas...

Quando as notícias sobre as mais valias decorrentes da venda das acções da SLN voltaram a encher manchetes, Cavaco Silva optou pela mesma pose majestática de auto-proclamado soberano da honestidade nacional.

Face ao escrutínio público, Cavaco insistiu na estratégia habitual do "não comento", do "está tudo no site da presidência" e da amnésia selectiva. Pelo caminho, entre um e outro ensaiado banho de multidão, ainda teve a soberba de apelidar o confronto político de "campanha suja" e "ataque pessoal", recorrendo à vitimização como forma de defesa.

Apesar da erosão resultante das nebulosas que se adensam em torno de si, Cavaco Silva sabe que o silêncio é a sua melhor arma.
O silêncio sempre foi a melhor arma dos que têm armários cheios de esqueletos, como cada vez é mais evidente no caso do candidato presidencial apoiado pela direita.




(Vídeo retirado do blogue Tabus de Cavaco)

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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Reviralhos Sound System # 15 (edição especial)



Rodrigo Leão - "Ave Mundi" (1993)




Os Poetas - "O Navio de Espelhos" (1997)




Rodrigo Leão - "Pasión" (2000)




Rodrigo Leão - "La Fête" (2004)




Rodrigo Leão - "Histórias" / "Vida Tão Estranha" / "A Corda" (2009)




segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entre nós e as palavras # 12



Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena

vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena

essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena

mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena

Fernando Assis Pacheco - "As Putas da Avenida"



(Fotografia: Brassaï - “Prostitute at angle of Rue de la Reynie and Rue Quincampoix”, 1933) 



As mulheres, segundo Salazar e Cavaco (só o tempo os separa...)


Um mero exercício de memória histórica, em que apelamos à descoberta das eventuais diferenças entre um discurso de Salazar, proferido em 1933, e uma mensagem televisiva de Cavaco Silva, em 2010.


O trabalho da mulher fora do lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os um pouco estranhos uns aos outros. Desaparece a vida em comum, sofre a obra educativa das crianças, diminui o número destas; e com o mau ou impossível funcionamento da economia doméstica, no arranjo da casa, no preparo da alimentação e do vestuário, verifica-se uma perda importante, raro materialmente compensada pelo salário percebido.
[...] defendemos que o trabalho da mulher casada e geralmente até o da mulher solteira, integrada na família e sem a responsabilidade da mesma, não deve ser fomentado; nunca houve nenhuma boa dona de casa que não tivesse imenso que fazer.
(António de Oliveira Salazar, Março de 1933)





(Aníbal Cavaco Silva, Dezembro de 2010)


Descobriram as diferenças? Nós também não...


sábado, 8 de janeiro de 2011

Lido por aí... # 7


Na véspera do início oficial da campanha eleitoral, destacamos um texto de Sandra Monteiro ("As presidenciais da crise", publicado na edição de Janeiro do Le Monde Diplomatique - edição portuguesa), que nos recorda muitas das múltiplas razões pelas quais é fundamental derrotar Cavaco Silva nas próximas eleições presidenciais:

As eleições presidenciais de 23 de Janeiro vão permitir a cada cidadão eleitor fazer uma escolha. Não será uma escolha que possa inverter, por si mesma, a orientação das políticas austeritárias que, neste início de 2011, são já causadoras de mais regressão social e de mais recessão económica. Essas competências cabem ao governo e não ao presidente da República. Mas os eleitores podem optar por dar um sinal político forte de que não estão do lado da crise − nem da sua génese, nem das respostas que impedem que se lhe veja o fim. Se o quiserem fazer, serão úteis todos os votos que não recaiam no candidato Aníbal Cavaco Silva.

A ele se deve, no período entre 1985 e 1995, quando foi primeiro-ministro, inclusive com duas maiorias absolutas, a arquitectura político-financeira da viragem neoliberal que ocorreu em Portugal e que, não tendo sido posteriormente invertida nos seus aspectos essenciais − apesar das medidas de cariz social que chegaram a corrigir as mais gritantes injustiças −, nos trouxe em linha recta até à dramática situação que hoje atravessamos. Dessa viragem fizeram parte: a destruição de capacidades produtivas na agricultura ou nas pescas, já no quadro das imposições das instâncias europeias; o processo de financeirização da economia, visível no estímulo ao crédito à habitação; ou o ataque aos serviços públicos, e desde logo à saúde e à educação, que corroeu as condições do financiamento destes serviços, pôs em causa o seu carácter universal e gratuito e abriu caminho à sua exploração por lógicas e interesses privados − à força de bastonadas, quando o executivo temeu a contestação nas fábricas ou nas ruas, como aconteceu na década de 1990 com os movimentos estudantis contra o aumento de propinas.

A Cavaco Silva se deve, mais recentemente, a complacência com processos que levantam legítimas dúvidas à justiça (caso do Banco Português de Negócios, BCP) ou ao normal funcionamento do poder político (caso da invenção das escutas do governo a Belém). Mas a ele se deve também uma assumida, e aliás legítima, utilização das competências que lhe são conferidas pelo cargo de presidente da República para favorecer a resposta que o governo deu à crise causada pela especulação com a dívida soberana, resposta essa plasmada nos programas de austeridade e crescimento (PEC) e no orçamento de Estado. O resultado foram políticas austeritárias que recaíram sobre os trabalhadores, os desempregados e os pensionistas, deixando incólumes os detentores dos mais elevados rendimentos e os imorais lucros do capital financeiro.

Cavaco Silva é, assim, um protagonista activo, e talvez durante mais tempo do que qualquer outro político da actualidade, do processo do neoliberalismo à portuguesa, não um processo em que do constante ataque ao Estado resultem simples e generalizadas privatizações, mas antes uma permanente disputa pela reconfiguração do Estado de modo a que este seja, com os seus recursos, cada vez mais colocado ao serviço da acumulação do capital financeiro, da corrosão do Estado social e dos princípios de universalidade, de redistribuição e de igualdade que estão na base da construção de sociedades de bem-estar. Um processo que está na origem da fragilização programada de economias como a portuguesa, tornando-as dependentes do sistema financeiro (onde se concentram os lucros) e garantindo que esse sistema nunca seja prejudicado porque, em momentos de crise, será invocada a dependência dos bancos para não os deixar falir (usando o dinheiro dos contribuintes). Cavaco Silva é o rosto de todas as fases deste processo nas últimas décadas, desde a aplicação das políticas económico-financeiras até à sua consolidação, tendente a transformar cidadãos em clientes, mas dos que nunca têm razão e raramente podem deixar de ter medo. 

Como compreender então as sondagens que apontam para a reeleição do actual presidente da Republica, sobretudo quando é notório que as preocupações da grande maioria dos portugueses estão actualmente concentradas nas dificuldades que a austeridade impõe ao seu quotidiano? É certo que a actuação do governo face à crise, embarcando no «clube europeu da austeridade» e repetindo que não havia alternativa senão ceder às «pressões dos mercados», preparou o terreno da impotência e da desesperança. Deu espaço de manobra ao candidato Cavaco Silva para vir agora desvalorizar, numa arrogância insultuosa, quaisquer alternativas políticas como falta de «bom senso», «propagação de ilusões», «larachas» e «tretas». Ou para classificar qualquer discordância política, perfeitamente legítima, como «um insulto aos mercados».

No entanto, são mais complexos os mecanismos que estão por detrás da facilidade com que Cavaco Silva se refugia no reino a-histórico da realidade como um dado imutável (e não como uma construção) e no reino a-político das escolhas meramente técnicas (e não resultantes de visões do mundo, relações de forças e interesses em conflito). Esta fuga do candidato, profundamente estratégica e política, está ao serviço da construção paternalista de uma imagem de alguém que estaria acima da política. Alguém em quem os «cidadãos» se limitariam a depositar a sua confiança, na certeza de que ele saberia identificar os consensos que a todos interessariam. Aquilo a que o candidato Cavaco Silva chama «aventura», quando se refere às escolhas que os portugueses podem sentir-se no direito de fazer, é no fim de contas um atestado de menoridade aos cidadãos e, em consequência, à própria democracia.

Neste sentido, Cavaco Silva é apenas, à nossa escala, o expoente do político que encarna algumas das características fundamentais de uma «fabricação do consenso» que a generalidade dos meios de comunicação social pratica no seu dia-a-dia. É a representação unipessoal de um espaço público e mediático que há muito vem sendo construído, sobretudo nesse meio mais influente que é a televisão, de modo a excluir o pluralismo do debate político (não apenas ao nível das propostas, mas das ideias). Um espaço artificialmente reduzido e pacificado («suavizado»…) no qual vigora a exploração do imediatismo, das emoções, e o desprezo pela espessura do contexto. Há muitos anos que neste espaço são feitas escolhas. Prefere-se, por exemplo, tratar temas como a pobreza pelo prisma da caridade, desfocando a imagem da «pobreza envergonhada», em vez de se dirigir os focos para as políticas (e seus responsáveis) que destroem serviços públicos, direitos laborais e sociais. Prefere-se, em simetria, deixar de fora da investigação jornalística os mais poderosos da sociedade, que muitas vezes são também, aliás, os accionistas dos grupos que detém a propriedade dos mesmos órgãos de comunicação social.

Na sociedade da «fabricação do consenso» finge-se a neutralidade política e escondem-se os interesses, legítimos ou não, que se escondem por detrás das atitudes dos mais fortes (as dos mais fracos, pelo contrário, são sempre alvo de suspeição ou denúncia). Se assim não for feito, corre-se o risco de os cidadãos se entusiasmarem com a aventura da democracia: que se ponham a pensar e se informem; que não aceitem formar opinião sem ouvir pontos de vista realmente contraditórios; que sintam o prazer do debate e a responsabilidade de serem parte de uma decisão; que não se sintam impotentes por tudo ser decidido longe deles e independentemente da sua vontade. Neste tempo de deriva suicidária da União Europeia, em que certa política se diz refém dos mesmos mercados cujo poder ela construiu, as próximas eleições presidenciais podem dar um sinal de que muitos cidadãos não estão do lado da crise: nem da crise que lhes impõe a austeridade e as desigualdades, nem da que os menoriza como sujeitos políticos no quadro da democracia. Derrotar Cavaco Silva será derrotar o rosto desta dupla crise, económica e política. Mas, aconteça isso ou não, a desconstrução dos mecanismos de «fabricação do consenso» é uma prioridade tão urgente antes como depois destas presidenciais da crise.



 

Ainda terás lata para nos dizer que teremos de nascer duas vezes para sermos mais honestos do que tu?







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